sexta-feira, 18 de agosto de 2017



O BÁCULO (BASTÃO) DE ASCLEPIO OU ESCULÁPIO, DEUS DA MEDICINA



Se tem cometido o erro de confundir o bastão ou báculo de Esculápio, deus da medicina, com o caduceu de Mercúrio, deus do comércio e mensageiro dos deuses. Este erro tem trazido como consequência que encontremos o caduceu, ou atributo de Mercúrio, como símbolo da medicina, decorando receituários e cartões de apresentação, papeis de sociedades e colégios de medicina, como logotipo em clínicas, consultórios e hospitais e, inclusive, em conselhos de medicina e universidades.


A ORIGEM DO SÍMBOLO

A mitologia grego-romana reconhece Asclépio ou Esculápio como deus da medicina. Nasceu em Epidauro, cidade da Argólida. Seus pais foram Apolo ou Hélio (o Sol) e a princesa Caronis, filha do rei Phlegias de Tesalia. Narra a lenda que estando Caronis já grávida do deus, este foi informado pelo corvo profético – a cuja vigilância a tinha confiado – que lhe era infiel com o Árcade Ischys.

Por ordem de seu irmão Apolo, Artemisa a matou com suas flechas. Porém, quando seu corpo era consumido na pira funerária, Apolo, arrependido, a puxou para fora e arrancou-lhe do ventre o filho Esculápio. 


Naqueles tempos, o corvo gozava de uma linda plumagem prateada, mas, a partir de então, se tornou negra.

Asclépio nasceu como Dionysios, em meio das chamas, de uma mãe querida. Recebeu de Apolo, deus da saúde, suas atribuições curativas. O menino foi levado por seu pai ao monte Pelión para que fosse educado pelo sábio Centauro Quirion, inventor da medicina. O menino aprendeu depressa e logo ultrapassou o mestre. Tornou-se tão hábil na arte de curar que podia ressuscitar os mortos

Os gregos viam em Asclépio o médico divino, o deus curador cuja proteção invocavam durante as enfermidades ou em caso de perigo iminente para a saúde. Dedicaram-lhe como emblema um bastão do qual brotam folhas novas como símbolo de renovação, ou de uma nova vida.

O bastão serviu de apoio nas viagens que empreendeu em auxílio das pessoas com deficiência; a serpente enroscada no mesmo se relaciona com virtudes adivinhatórias (a medicina e a arte de adivinhar andaram juntas na antiguidade). Também era símbolo de renovação e restauração, (a serpente, ao mudar de pele, se renova e se restaura) e, como asseverava Plínio? Do mesmo modo se renova o homem por meio da medicina, já que os medicamentos podem lhe dar um novo corpo.

Também conta a mitologia que Esculápio descobriu o segredo de ressuscitar os mortos: em uma ocasião, durante a cura de um enfermo, uma serpente se enroscou em um bastão que sustentava com a mão.

Esculápio se assustou e a matou, porém, pouco depois, observou que outra serpente introduzia na boca da serpente morta uma erva com a qual lhe devolveu a vida. Ao se dar conta de tal virtude, Esculápio a recolheu e a usou em várias ocasiões, ressuscitando os mortos. Isto explica, de acordo com esta versão, por que o báculo ou bastão de Esculápio se adorna também com folhas e duas serpentes enroscadas, uma frente a outra.

Outra versão conta que Atena deu a Asclépio duas redomas com sangue da Górgona[1] Medusa: uma contendo o sangue extraído das veias de seu lado esquerdo que ressuscitava os mortos e a outra com sangue extraído de seu lado direito que provocava a morte instantânea. Outros mitólogos referem que Atena e Asclépío repartiram o sangue, ele o utilizava para resgatar a vida e ela para destruí-la e instigar a guerra. Na época atual este fato se relaciona com a bioética.


A família de Asclépios era composta por sua esposa, a doce Hepione (a calma), seus filhos Machaon (representante da cirurgia) e Podalirio (representante da medicina interna) e suas filhas Hygia (a saúde), Laso (a curadora) e Panakeia (remédio de todos os males), assim como por Telésforo (gênio da convalescência).

Esculápio é também representado com uma coroa de flores na cabeça, levando na mão um bastão ou báculo rodeado por uma serpente.

O CADUCEU DE HERMES OU MERCÚRIO, DEUS DO COMÉRCIO



Hermes teve muitas virtudes e numerosos vícios, entre os que se destacam está o seu caráter turbulento e ser amigo das brigas. A primeira coisa que fez ao nascer foi roubar o rebanho de Apolo, porém, em geral, é considerado como um deus benéfico para a humanidade. É distribuidor de mercadorias. Dele procedem favores e benefícios, pelo que chega a ser considerado deus do lucro, fosse qual fosse sua procedência. É a divindade das relações pacíficas e dos laços sociais.

Ele se tornou o deus protetor das transações e do comércio em suas variadas e diferentes formas.

É o protetor dos viajantes e o guia e guardião das estradas. É o protetor dos oradores. A ele se invoca para adquirir os dons da memória e da dicção escolhida. E foi ele quem deu a voz a Pandora (uma voz sedutora que tão funesta haverá de ser para o ser humano da linhagem de Hesíodo), mulher formada por Vulcano, enfeitada e embelezada por todas as deidades do Olimpo.

O emblema de Hermes, o caduceu, é um nodoso bastão que Apolo lhe deu em alegria pela lira de sete cordas que aquele deus acabava de inventar, a mesma que lhe entregou como um presente de reconciliação e amizade e que naquele momento colocou entre duas serpentes que lutavam, as quais suspenderam imediatamente a luta enroscando-se na vara, pelo que desde então o caduceu de Mercúrio ou Hermes é o símbolo da paz, usado por arautos e embaixadores encarregados de negociar.

Dotado de maravilho e mágico poder, convertia em ouro tudo quanto tocava, atraia as almas dos mortos e adormecia ou despertava os mortais. Hermes é também arauto das potestades superiores e inferiores.

A veloz carreira deste mensageiro celeste se deve às sandálias douradas que calça e que lhe havia presenteado seu pai, Zeus. Posteriormente, os artistas fixaram asas a essas sandálias, que também foram adaptadas ao caduceu e ao pétaso[2] ou chapéu Tessalio que comumente usava. Mesmo quando ele era pintado ou esculpido com a cabeça descoberta, as asas lhe foram colocadas entre os cabelos.

(Texto extraído da revista Hiram Abiff – tradução de Pedreiro de Cantaria)






[1] A Górgona também vestia um cinto de serpentes entrelaçadas. Na mitologia grega tardia, diziam-se que existiam três Górgonas: as três filhas de Fórcis e Ceto. Seus nomes eram Medusa (Μέδουσα, "a impetuosa"), Esteno (Σθεννώ, "a que oprime") e Euríale (Εὐρυάλη, "a que está ao largo" 

[2] Pétaso (do grego: πέτασος petasos) era um tipo de chapéu usado pelos antigos gregos e romanos, de abas largas e copa pouco elevada, feito normalmente de feltro de lã, couro ou palha.