sexta-feira, 12 de abril de 2019


SOCIETAS JESU - A MAÇONARIA DA IGREJA


Capítulo do livro

OS JESUÍTAS

A Sociedade de Jesus e a Traição da Igreja Católica Romana

MALACHI MARTIN

(Tradução José Antonio de Souza Filardo e Paula Filardo)


Capítulo 8- A COMPANHIA DE IGNATIUS

A estrutura funcional da companhia de Ignatius é a realização milagrosa na transformação por Iñigo dos seus contemporâneos do século dezesseis de homens que pensavam no “homem como medida de todas as coisas” em homens devotados a um Deus onipresente e Salvador.

Aqueles contemporâneos dele estavam mergulhados na fantástica novidade de vida em seu tempo, com todas as suas possibilidades douradas. Toda sua reação era deixar para trás as velhas formas de pensamento e modelos de comportamento, as velhas formas de viver, mesmo os antigos locais onde eles tinham vivido e as velhas verdades pelas quais eles tinham vivido ali – tudo o que eles tinham herdado de seus antepassados medievais.

Face a face com aquela mentalidade Iñigo desenhou a planta de sua Companhia de Jesus sobre um modelo ainda mais antigo que os tempos medievais, a saber, o princípio básico do próprio cristianismo: subordinação. A subordinação de todo o cosmos e tudo o que está dentro dele – desde as pedras inanimadas e a terra, até as plantas, animais e humanos, anjos e arcanjos, dentro de um princípio hierárquico de ser – à trindade do Pai, Filho e Espírito Santo. Não existe democracia nesta hierarquia, nenhum objetivo comunal de igualdade; somente inferiores e superiores. Não existe auto-aperfeiçoamento de individualismo; nenhuma integração pessoal. Existe uma hierarquia de partes ordenadas; existem indivíduos destinados, cada um deles a complementar o outro; existe integração de cada parte no todo desde que cada parte seja subordinada. Porque, ser parte deste sistema é ser subordinado. A única igualdade permitida era a subordinação. Todos são subordinados. Dentro daquele sistema hierárquico de ser e existência, cada objeto tinha seu lugar. O Criador de tudo tinha arranjado todos em certo acordo e ordem.

Isto foi o que Deus originalmente revelou aos Filhos de Israel através de seus profetas. Isto foi o que Cristo revelou em sua integridade. Isto é a fundação de toda a antropologia Cristã, enquanto distinta de e oposta ao Darwinismo do século dezenove, genética e social e política. Nenhum desenvolvimento humano, não importa quão novo, e nenhuma modernidade – seja a da Renascença ou a da era atômica, tectrônica – pode substituir este sistema.

Iñigo destinou sua Sociedade a reproduzir em sua existência de trabalho aquele princípio hierárquico pelo qual “o inferior se submete ao superior”, e onde todos os elementos estavam ligados em reconhecimento de autoridade mais alta e, portanto, em prontidão para obedecer. Ele pretendia que os membros de sua Ordem fossem ligados por uma união mística de corações e vontades em subordinação voluntária, sujeitos aos Superiores, Superiores ao Padre Geral, o Padre Geral a toda Sociedade, e Toda a sociedade ao Papa, o Papa a Cristo, cujo representante é ele.

A Companhia de Iñigo era, portanto, extremamente simples em sua estrutura – tão simples que seus inimigos estavam sempre convencidos de que havia muito mais no Jesuitismo do que os olhos podiam ver no quadro externo e efetivo da Sociedade.

Era a pirâmide de autoridade. Em seu ápice, ele colocou um homem que atendia pelo nome de Geral ou Padre Geral. O título não era retirado do código militar. Este oficial tinha autoridade sobre a estrutura geral e governança de toda a Sociedade. Ele não tinha obrigação de seguir qualquer conselho, ou procurar o consentimento de qualquer outro jesuíta ao dar ordens. Ele era o “superior” geral, em distinção a todos os outros superiores na organização, que eram locais e encarregados de seções particulares. Ele sozinho entre todos os Superiores chegava à sua posição via eleição; todos os outros superiores eram indicados por sua escolha ou pelo menos com sua aprovação e, uma vez eleito Geral, ele permanecia em seu posto até a morte, a menos que motivos muito graves recomendassem um afastamento. Sua autoridade era absoluta sobre toda a Sociedade e suas diferentes partes e membros. Ele podia dispensar qualquer um da Ordem, e nenhum julgamento formal ou processo semelhante era necessário. Iñigo foi eleito por unanimidade em Abril de 1541 como primeiro Padre Geral da Sociedade.

O corpo da Sociedade era composto por quatro categorias, ou graus como eles eram chamados na Sociedade, os membros se distinguiam como regra geral pelo grau de seu acesso a importantes posições de governo e direção da mão-de-obra e recursos da Sociedade. Na prática isto significava sua proximidade com ou distância do Geral na pirâmide de autoridade e poder.

Primeiro, com relação a isto estava a categoria ou grau de Padre Professado. Jesuítas nesta categoria tinham passado com sucesso por rigorosos testes escolásticos assim como provas de sua qualidade religiosa; tinham feito quatro votos solenes de pobreza, castidade e obediência (votos comuns a todas as Ordens Religiosas Católicas); e tinham feito um voto especial de obediência ao Papa. Enquanto todos os Jesuítas estavam obrigados a obedecer ao Papa, os Professos se obrigavam por aquele quarto voto especial. Somente estes professados tinham acesso aos mais altos escritórios do Geral, e os postos mais imediatos abaixo do Generalato. E somente eles podiam participar na eleição de um Geral.

As demandas sobre os Professos por Iñigo eram difíceis. Em princípio, os Professados somente podiam ser jesuítas “selecionados por seu espírito e educação, rigorosa e extensamente, e conhecidos por sua edificação e satisfação de todos após diversas provas de virtude e abnegação.” Isto, na verdade, era um alto ideal.

Mesmo entre os Professos, havia distinções de função e, portanto, de poder. Assim, um Jesuíta Professo encarregado de todos os Jesuítas na Colômbia, América do Sul, não estava tão próximo do Padre Geral quanto o Padre Professo em Roma que era assistente do Padre Geral para todos os países da América do Sul, incluindo a Colômbia.

Os Padres professos ocupavam cargos de professores de faculdades de filosofia e teologia comandava as casas Jesuítas de treinamento para candidatos Jesuítas e os escritórios locais da Ordem em todo o mundo. De acordo com o plano original de Ignatius, o Professo viveria em casas que não tinham receitas fixas, nenhuma dotação regularmente produzindo fundos. A prática de pobreza pelo Professo devia ser tão perfeita quanto possível.

A segunda categoria ou grau abaixo do Geral era composta por padres que faziam votos simples, não solenes; e eles não faziam voto especial ao Papa. Eles eram tradicionalmente chamados Coadjutores Espirituais, pois no conceito de Ignatius, eles ajudavam e secundavam o trabalho dos Professos. Aos olhos de Ignatius, os membros desta classe se engajariam primariamente no ministério sacerdotal ao povo e supervisionariam a organização material das casas jesuítas.

O terceiro grau ou categoria na pirâmide jesuíta era o de Irmãos Leigos; estes nunca se tornavam padres. Mas tomavam os três votos simples e eram encarregados do trabalho manual em casas jesuítas – cozinhando, limpando, plantando, lavando, tomando conta das roupas, fazendo as compras, consertando coisas, manutenção, tomando conta dos enfermos e enfraquecidos.

A quarta categoria era a dos jovens estagiários Jesuítas, geralmente chamados de Escolásticos devido à sua preparação ser feita através das diversas “escolas” – humanidades, filosofia, teologia, ciência – de ensino. Ao final de seu escolasticado, eles eram ordenados padres e, dependo de como eles tinham se saído durante seu treinamento, eles entravam para as fileiras dos Professos ou dos Coadjutores Espirituais. Eles eram, então, colocados para trabalhar.

Quando Iñigo morreu em 1556, havia quarenta Padres Professos em um número total de 1000 jesuítas.

Iñigo designou somente um elemento em sua Sociedade como superior ao Padre Geral em que ele tinha investido tais poderes tão amplos. Esta era a Congregação Geral: uma assembléia internacional de jesuítas, Padres professos, todos, escolhido entre o corpo dos membros, e reunindo-se em Roma com os Superiores Maiores da Sociedade. A Congregação Geral é o corpo legislativo supremo da Sociedade, responsável somente perante o Papa, não o Padre Geral. Na verdade, ele pode depor um Padre Geral por motivos justos. Ele elege cada novo Padre Geral e ele é regido pelos decretos da Congregação Geral. Na realidade, normalmente, sua administração devia consistir em administrar os Decretos acordados pela Congregação Geral ao votar o que pode ser por voto aberto ou voto secreto. Apesar a superioridade legislativa da Congregação Geral, geralmente as Congregações dão poderes muito amplos ao Padre Geral. No entanto, como a Congregação vai, assim vai toda a Sociedade.

Ao aceitar candidatos a uma posição em sua Sociedade, e ao certificar-se de que uma vez aceitos, eles devem adquirir a mente e o espírito da Sociedade, Iñigo dependia principalmente da eficácia religiosa de seu livro, Exercícios Espirituais. Os Candidatos, uma vez que lhes fosse permitido entrar como estagiários eram submetidos aos Exercícios por um período que varia entre oito e trinta dias. Era então que lhes era feito entender o chamado específico de um Jesuíta meditando sobre as idéias básicas inacianas do Reino, o Líder divino, o Arcanjo Inimigo, e a Guerra, assim como ideais jesuítas de obediência aos Superiores e ao Papa.

Alguns comentaristas, tendo examinado os Exercícios e o processo de Noviciado como Ignatius o concebeu, foram rigorosamente anacrônicos, descrevendo todo o processo em termos daquele horror moderno, lavagem cerebral. Mas, uma análise atenta do processo mostra como seu princípio fundamental a doutrina central de Ignatius sobre a suprema importância da vontade humana. Fosse qual fosse que tivesse usado como imagens físicas, metáforas, símbolos – mesmo posturas físicas de oração – todo isso tinha uma finalidade: atrair a escolha daquela vontade humana livre.

No noviciado, não havia assalto direto ao cérebro, ou mente. Ao invés disso, o treinamento de Noviciado visava diretamente dissecar o que era classicamente conhecido como a vontade do candidato em suas partes componentes, examinando aquelas partes, eliminando o que era indesejável, purificando o que era adaptável e útil, e cimentando tudo isso com a ideologia do Reino e o Líder e suprema obediência.

Tendo passado pelos Exercícios até satisfação do jesuíta supervisor, desde que ainda tivesse a intenção de se tornar um membro da Ordem, o candidato se tornava um Noviço. Todos os Candidatos, então faziam o mesmo Noviciado, passando dois anos em treinamento básico. Cada um aprendia a rezar, a se disciplinar, a obedecer a comandos. Ele tomava conhecimento do mundo do espírito e os detalhes da espiritualidade jesuíta. Durante este tempo, suas falhas e caráter geral eram estudados. Ao final, todos os Noviços bem-sucedidos faziam três votos simples de Pobreza, Castidade e Obediência. Alguns se tornavam Irmãos Leigos, outros passavam a ser Escolásticos para posterior treinamento como Professos ou Coadjutores Espirituais; ao final daquele treinamento eles fazem seus Votos Finais. Os Professos entre eles, acrescentavam aquele quarto voto especial.

A mão de obra da Sociedade era organizada em “Províncias”. Por ocasião da morte de Iñigo em 1556, havia doze: Andaluzia, Aragon, Brasil, Castela, Etiópia, França, Baixa Alemanha, Alta Alemanha, Índias, Itália, Portugal, Sicilia. A criação de uma província em um local particular dependia do número de Jesuítas trabalhando ali, e da extensão e importância do trabalho a ser feito.

Geralmente, diversas Províncias eram agrupadas com base em identidade cultural comum ou contigüidade geográfica e chamada de Assistência. Assim, Andaluzia e Castela pertenciam à Assistência Espanhola. Com o tempo, à medida que as províncias se multiplicaram, aumentou o número, e Sociedade foi chamada pra uma missão ou outra, elas seriam uma Assistência Inglesa, uma Assistência Francesa, uma Assistência Americana, e assim por diante.

Desde o início, Iñigo tinha insistido em que sua Sociedade diferisse de todas as Ordens Religiosas que tinham desde então sido sancionadas pelo papado. Seus membros não eram obrigados a cantar o Ofício divino em coro, juntos, por exemplo; eles não tinham roupas distintas como as antigas Ordens, como os Beneditinos, Carmelitas e Dominicanos, eram obrigados a usar. Nem havia qualquer penitência corporal.

O governo das casas e Províncias também era distinto. Ele não estava nas mãos de um “Capítulo Geral” de Membros da Ordem eleitos pelos votos de seus irmãos religiosos. Ao invés disso, Superiores individuais junto com a cadeia de comando tomavam as principais decisões. O objetivo de Loyola era livrar seus homens de tais obrigações para com uma assembléia, de modo que sua mobilidade – Superiores de ser capaz de comandar por sua própria iniciativa, e membros a obedecer a um homem – para o trabalho em nome da Igreja ser o máximo.

Ele também recusou ter o que muitas Ordens antigas tinham: uma Ordem correspondente de jesuítas femininos, no modelo de freiras Dominicanas e Freiras beneditinas, Freiras carmelitas, freiras franciscanas. Um dos episódios mais alegre na história precoce dos jesuítas envolveu a admissão temporária por Iñigo de cinco mulheres – elas foram as únicas mulheres em 480 anos a se tornarem membros da ordem jesuíta – para a profissão dos votos. Isabel Roser de Barcelona, uma das primeiras protetoras de Ignatius forçou a mão persuadindo o Papa Paulo III a permitir que ela e três amigas tomassem votos solenes de obediência na Sociedade em 1545. Esta boa e santa mulher tinha ajudado Ignatius em seus anos mais difíceis; era impossível não satisfazer, pelo menos pelo gesto, seu desejo de ser parte do que ela tinha ajudado a fundar, uma vez que o Papa tinha consentido. Após muita irritação e um caso de tribunal público, todas as três foram liberadas de seus votos pelo Papa em 1546. Em 1555, sob extrema pressão da Corte Real, Iñigo admitiu a Rainha Juana de Castela, filha do Rei Fernando de Aragão e Isabel de Castela à profissão de votos simples na Sociedade. Conhecida com Juana la Loca, devido a uma instabilidade emocional percebida nela, ela, da mesma forma, foi liberada daqueles votos dentro de pouco tempo. Ignatius tinha feito aquelas exceções por motivos especiais, mas calculou com precisão que nenhuma daquelas mulheres finalmente se adaptaria à sua Sociedade.

Os principais tipos de trabalho assumido por Jesuítas eram pregar o Evangelho em paises não cristão, educação da juventude, ministérios sacerdotais, escrita, pesquisa e missões especiais confiadas a eles pelo Papa. As casas em uma Província eram geralmente de seis tipos: residências (para professores, escritores, Superiores locais, membros aposentados ou doentes, ou para jesuítas engajados em trabalho externo); casas de estudo (para jovens jesuítas); um noviciado (onde os candidatos a entrar na Sociedade naquela província eram examinados e preparados para entrar) Além destas, havia escolas e colégios devotados à educação de leigos e casas para Retiros Espirituais aonde leigos vinham para aconselhamento espiritual e finalidades devocionais.

A cadeia de comando a partir de cada casa, não importando quão pequena ou quão remota, até chegar ao Padre Geral era claramente ordenada. Cada casa tinha um Padre Superior. Acima dos Superiores de todas as casas em uma Província havia um Padre Provincial. Acima dos Provinciais de uma Assistência havia um Assistente que geralmente vivia em Roma na residência central jesuíta com o Padre Geral. Os poderes e limitações aos poderes de cada superior estavam claramente delineados. Por sua vez, cada Superior tinha um grupo de Consultores, conselheiros em caráter, mas cujo consentimento era necessário para tomar certas decisões. Um superior de casa escolhia seus Consultores entre os ocupantes da casa; um Provincial da Província, um Assistente de sua Assistência; e o Geral tinha seus Assistentes, além de outros que ele desejasse empregar.

Dentro da cada casa dos jesuítas havia uma série de postos de Superior Menor: um Superior Menor estaria encarregado de finanças da casa; outro, chamado Padre Espiritual, permaneceria à disposição da comunidade para aconselhamento e direção espiritual; outros Superiores seriam prefeito de biblioteca, prefeito de estudos, e prefeito de saúde, se necessário, haveria um supervisionando a fazenda. Todos estes Superiores Menores internos obtinham sua autoridade através do Padre Superior da casa.

Em uma Província ou uma Assistência inteira, quando chamados, havia os “procuradores”, homens designados para supervisionar necessidades específicas da Província ou Assistência.

Do Geral em Roma, viriam certos Visitadores eventuais, nomeados enviados para examinar como uma Província ou Assistência estava se saindo espiritualmente, financeiramente, escolasticamente, socialmente, ou politicamente.

A ramificação de Superiores Maiores e Menores em uma Sociedade era complexa, mas nunca desajeitada. Não havia elementos redundantes. Cada funcionário, não importando seu grau, servia na coagulação de trabalho do corpo mundial.

Obediência e comando sábio dos Superiores eram grandemente facilitados pelo que Iñigo chamou de “prestação de conta de consciência”. Em essência, esta era uma entrevista particular e confidencial entre o Superior e o sujeito – entre, digamos, o Padre Reitor de uma casa e um dos membros daquela casa; entre o Padre Provincial e um membro de sua província; entre um noviço e seu Superior imediato, o Noviço Mestre; entre o Padre Geral e qualquer membro da Sociedade.

Ignatius não exigia a “prestação de contas de consciência” fosse o mesmo que uma confissão; embora o segredo confessional pudesse ser invocado por qualquer um. Ele pretendia que o sujeito pudesse falar francamente sobre seus pontos fracos e pontos fortes, suas esperanças e desejos, e sua prática da virtude religiosa; que o Superior, ouvindo e falando com ele, estaria na posição mais informada para decidir o que o sujeito podia fazer melhor na Sociedade, de modo que seu caráter Jesuíta seria desenvolvido no serviço da Igreja específico da Sociedade.

A “prestação de contas de consciência” foi concebida por Ignatius para será o ápice da expressão do relacionamento pai-filho que ele desejava que existisse entre Superior Jesuíta e o sujeito Jesuíta. Era um sistema francamente paternal que ele tinha em mente. Era seu meio de assegurar que o principal coagulante de sua Sociedade, a obediência, seria exercida pelo sujeito e usada pelo Superior com o máximo possível de compaixão da parte do Superior e o maior contentamento da parte do sujeito. Nem a mera obediência da execução nem obediência da vontade, mas obediência do entendimento deveria ser alcançada.

A “prestação de contas de consciência” também representava um modo altamente pessoal de governo. Porque o Superior como tal devia ser abordado e tratado e obedecido como Cristo. A regulamentação da vida normal de um jesuíta era, para usar uma expressão moderna, um a um. Nenhum jesuíta precisava enfrentar um “capítulo” ou assembléia de seus irmãos, como nas Ordens mais antigas, responder por suas ações e ouvir decisões sobre sua sorte. O individualismo do jesuíta único em seus deveres, seus direitos, seu desenvolvimento pessoal, sua carreira, era assim fomentado. A unidade corporativa de tais membros era assegurada pela obediência sistemática e fomentava aquele individualismo. Assim, eram alcançadas aquela intimidade e característica do Jesuíta dentro da vida em Sociedade.

O governo interno e unidade de mente e ação dentro da Sociedade eram realizados por uma prática sistemática, aprovada, regular de redação de relatórios: Superiores Menores a Superiores Maiores; Superiores Provinciais a Assistentes Romanos; Assistentes ao Padre Geral; o Padre Geral a toda a Sociedade; os Provinciais a seus membros individuais da província. Os relatórios se referiam aos méritos e deméritos de membros da Ordem, a conduta e progresso deste ou daquele projeto, a condição espiritual e financeira desta ou daquela seção da Sociedade, ou um trabalho confiado à Sociedade.

Desde o tempo do próprio Iñigo, um fluxo vivo de comunicação também era encorajado entre jesuítas individualmente, porque isso ajudava o que eles chamavam de “união de vontades, que é o amor mútuo e caridade que eles [jesuítas] têm entre si… obtendo informações e notícias entre si e…” muita intercomunicação junto com “eles seguindo uma mesma doutrina e sendo uniformes em tudo até onde possível.”.

Tendo traçado a mera estrutura, Iñigo concebeu para sua Sociedade, entretanto, é evidente que, por mais eficiente que fosse, não era suficiente para unificar ou coagular todas as partes em um verdadeiro todo – um todo inaciano. O que fez isso – o que uniu todos os muitos jesuítas, divididos como eram em quatro categorias de Padres Professos, Coadjutores Espirituais, Irmãos Leigos e Escolásticos, e distribuídos por muitas partes do mundo e por muitas funções em toda a estrutura da pirâmide – eram os vínculos gêmeos de autoridade e obediência.

Estes eram realmente dois aspectos da mesma coisa. Obediência era central, juntamente com a subordinação de que precisavam. Cada jesuíta estava subordinado a alguém.

“Superiores individuais”, escreveu Ignatius, “devem ter muita autoridade sobre os sujeitos, e o Geral sobre os superiores, e por outro lado, a Sociedade muita autoridade sobre o Geral.” Dessa forma, “todos podem ter poder total” e, mesmo assim estar sob certo controle.

Assim como ocorre com o voto de obediência, ele ‘une indivíduos a seus Superiores, e os Superiores locais entre si e aos Provinciais, e ambos Superiores e Provinciais ao Geral. “Assim, a subordinação de alguns a outros é diligentemente preservada.”

Aos olhos de Ignatius, sua Sociedade deveria se distinguir pela qualidade da obediência de seus membros. “Os outros líderes religiosos podem nos sobrepujar em jejuns, vigílias de prece noturna e outras austeridades em comida e roupa. Nossos membros devem exceder em verdadeira e perfeita obediência, na renúncia voluntária de julgamento particular.”

Este princípio fundamental da obediência jesuíta era difícil de implementar. Na verdade, Ignatius achou necessário codificar em um documento especial exatamente o que ele queria dizer com Obediência Jesuíta. Em 1553, provocado por sérias dificuldades entre os Jesuítas portugueses, diversos dos quais ele teve que dispensar, Ignatius escreveu sua Carta sobre a Obediência; nela, ele é claro sobre o que chama de “verdadeira obediência.”.

Todo Superior deve ser obedecido com representante de Cristo. Obedecendo este representante, você estava obedecendo A Cristo; você estava fazendo a vontade de Cristo.

Sua obediência podia ser uma entre três tipos. O grau mais baixo é “obediência no desempenho”: Você faz o que lhe é ordenado, mesmo que você possa discordar com a idéia total, pensar que o Superior é um tolo, ou pensar que você sabe o que deveria ter-lhe sido ordenado. Você obedece, mas contra sua vontade. O julgamento de Ignatius deste grau de obediência: “muito imperfeita”.

Existe um segundo grau de obediência. Você pode ainda achar que o Superior é um tolo e que você sabe o que ele deveria ter ordenado, mas por obediência a Cristo, você decide que você fará de boa vontade o que ele diz. O ponto aqui é que você tem a intenção de agradar a Cristo, que sua obediência seja transformada de má vontade para boa vontade. Na verdade, você escolhe desejar o mesmo que seu Superior. “Neste estágio,” comenta Ignatius, “existe já alegria na obediência.”.

Existe ainda uma outra, o mais alto grau de obediência. Você faz não apenas o que lhe é dito que faça, sem mostrar qualquer oposição aberta. Nem você simplesmente escolhe querer como seu Superior quer, cumprir aquele comando de boa vontade. Agora você concorda mentalmente com seu superior, você tem a obediência do intelecto. Incondicionalmente, você pensa como seu superior. Você submete seu julgamento ao de seu Superior “até onde somente a rendição da vontade pode influenciar o intelecto.” Esta forma mais alta é o que Ignatius chamava “obediência cega… a renúncia voluntária ao julgamento particular.”.

Os graus de obediência, obviamente, são organizados de acordo com a vontade de grau um é engajada naquela obediência – de acordo, em outras palavras, com a “disposição” de alguém. Ignatius escreveu em algumas linhas curtas o seu ideal do jesuíta obediente:

Em geral, eu preciso não desejar pertencer a mim mesmo, mas a meu criador e a seu representante. Eu preciso deixar-me conduzir e mover como um pedaço de cera se deixa ser moldada. Eu preciso ser como um cadáver de homem morto sem vontade ou julgamento; como um pequeno crucifixo que se deixa ser movido sem dificuldade de um lado para outro. Como uma bengala na mão de um velho, ser colocado onde ele deseja e onde ele pode fazer melhor uso de mim. Assim, eu preciso sempre estar pronto, de modo que a Ordem possa usar-me e aplicar-me da maneira que lhe possa parecer boa…

A frase “como o cadáver de um homem” em latim perinde ac cadaver, deu origem à frase “obediência cadavérica” e erradamente interpretada, foi usada para ridicularizar, e até mesmo vilipendiar a obediência jesuíta. Exige discernimento do que Ignatius queria dizer; e o que ele queria dizer era em si mesmo revolucionário.

Até esta época, o voto de obediência nas Ordens Religiosas (assim como os outros dois votos de pobreza e castidade) era destinado a ajudar os membros daquelas Ordens a atingir a santidade pessoal, e no limite, a salvação eterna.

A obediência jesuíta visava primariamente criar um corpo muito disciplinado e coeso de homens amplamente separados pelo mundo afora, homens que eram dirigidos por planos e estratégias concebidas por grupos de Superiores coordenados e interligados; homens cujo trabalho visava primariamente o mundo ao redor deles.

A passividade e a qualidade cadavérica de caráter daquela obediência, a maleabilidade da cera, a adaptabilidade da bengala do velho, e o desamparo do pequeno crucifixo – todas estas eram imagens que se referiam a um único processo: a escolha do objetivo e os meios para se atingir aquele objetivo.

Como os jesuítas provaram além de todos os sofismas, a obediência inaciana nunca afetou a engenhosidade, o ativismo perene, a genialidade, o uso extenso de realizações pessoais e dons pelos membros da Ordem.

Na verdade, a obediência jesuíta, com o passar do tempo, se tornou uma característica quase fabulosa dos membros da Ordem. Seus amigos e admiradores a elogiavam. Os inimigos a parodiavam, reclamando que os jesuítas eram obrigados por seu voto de obediência a fazer tudo o que o Superior ordenasse – assassinar um líder, explodir um edifício, roubar, corromper, mentir, cometer suicídio. Mas isto é pura calúnia. Ignatius exclui explicitamente da obediência qualquer coisa que cheire, remotamente, a pecado. Assim também faz a lei geral de moralidade católica.

Tinha sido sempre este aparentemente flagrante contraste entre a obediência “cadavérica” de homens dispostos em pirâmide de um lado, e de outro sua engenhosidade, genialidade e outros dons individuais tão evidentes em seu ativismo que tinha intrigado os inimigos da Sociedade. Nada havia para ver, eles diziam. “Nada,” como o racionalista francês do século dezenove e ateu de estilo próprio, Edgar Quinet, reclamava exasperado, “a não ser provinciais, reitores, examinadores, consultores, admonitores, procuradores, prefeitos de coisas espirituais, prefeitos de saúde, prefeitos de bibliotecas, prefeitos de refeitório, atendentes e comissários.” Como então podia tal organização anódina ser um inimigo tão formidável para os inimigos de Roma, tão valiosa como ativo do papado.

Toda aquela estrutura piramidal construída sobre “obediência cadavérica” precisa, concluiu-se, ser uma fachada para uma elite oculta letal e sedenta de poder, conspirando por trás desta fachada banal para assumir as liberdades e ativos de todos os homens livres, ou para o que um escritor Protestante chamou “artes mágicas secretas pelas quais os jesuítas em certos dias fazer acontecer coisas estranhas…”

“Mostre-me entre tudo isso a alma cristã!” Quinet reclamava. E embora Quinet e tantos outros como ele durante séculos não veriam, o segredo real dos jesuítas de Ignatius era precisamente a alma cristã; seu cultivo e refinamento em cada membro da Ordem. Embora todos os regulamentos fossem criados por Ignatius nas Constituições e outros escritos, é somente quando você entende aqueles regulamentos à luz da dimensão divina e espiritual do molde inaciano clássico que você pode começar a entender o jesuitismo: aquela combinação peculiar de individualismo altamente desenvolvido em cada membro, coordenada a partir de dentro do arcabouço da coesão da organização ao redor dos Superiores; coesão composta de obediência jesuíta. Disciplina interna rígida deu origem a unidade interna. Liberdade individual abençoada por obediência deu aquele tremendo momento ao que nunca tinha sido igualado por outra organização.

Muitos, incluindo os primeiros jesuítas, usaram metáforas militares para descrever a natureza e o modo de operação que Ignatius criou para sua Sociedade. A cadeia piramidal de comando, a divisão dos jesuítas em graus, a idéia da obediência jesuíta, estes elementos são reproduzidos, certamente, em grupos militares. O próprio nome que Ignatius usou para designar seu grupo, Companhia de Jesus, parecia a muitos ser derivado da estrutura do exército.

Ainda assim, na mente de Ignatius é certo que sua idéia do que a Sociedade de Jesus e seus Jesuítas seriam estava modelada diretamente no que a teologia e a filosofia católica tradicionalmente deram como condição divinamente revelada de todas as coisas criadas – subordinação dentro de uma ordem predeterminada. Pecado e Lúcifer tinham violado aquela ordem das coisas criadas. A grande empresa de Cristo era restaurar aquela ordem. O Termo Companhia, que indubitavelmente teve um uso militar por trás dele, não obstante, queria em sua mente sublinhar o fato de que ele e seus associados eram mais companheiros em tal empresa enorme; e que através de sua subordinação, eles estavam diretamente ligados a Cristo.

Uma vez que os vínculos subordinados eram rompidos – ou dentro da Sociedade ou entre a Sociedade e o representante de Cristo, o Pontífice Romano – a verdadeira natureza da Sociedade de Jesus seria mudada.

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A localização das Colunas do Templo, suas Palavras e outras considerações esclarecedoras



Tradução: S.K.Jerez

Por Joaquim Villalta *


O objetivo deste artigo é tentar esclarecer a confusão reinante relativa às Colunas do Templo de Salomão, suas palavras, e outros aspectos tangenciais que foram objeto de interpretações errôneas e degeneradas, por interesse ou ignorância em muitos casos. Agradeço infinitamente as lúcidas e magníficas indicações sobre o assunto que foram contribuição do Querido Irmão e amigo Patrick Négrier, magnífico maçonólogo e filósofo, referência conhecida de todos, e cuja proximidade e atenção segue lado a lado com sua imensidão de conhecimentos.

As palavras B e J só eram transmitidas no grau de Aprendiz, conforme diz o “Edimburgo” de 1696. O ritual da grande loja de Inglaterra se limitou a acrescentar um grau de maestria (no qual mudou a transmissão da palavra MB com o toque dos cinco pontos do antigo grau de companheiro) para poder reservar para o grau de companheiro, agora liberado de seu conteúdo anterior, um conteúdo novo: a transmissão do desenvolvimento na letra G (Samuel PRICHARD, “Maçonaria Dissecada”, 1730).

Muito amiúde, a transmissão dos dois graus era realizada de uma só vez. Apesar de certas leituras certamente fantasiosas e imaginativas, a porta entre as duas colunas estava voltada para o leste e indicava a porta equinocial. A coluna J à direita do nordeste indica a localização do horizonte onde o sol sai no dia do solstício de verão, mais longo; e a coluna B, à esquerda ao sudeste, indica a localização do horizonte onde sai o sol no dia do solstício de inverno, o dia mais curto. Voltar a ler I Reis 7,21.

Para responder a estas perguntas, sempre é necessário voltar ao texto fundador, o “Edimburgo” de 1696, que expõe claramente e sem a mínima dúvida possível: “Q. : Are there any lights in your lodge ? Am\ is, three, the north-east, s.-w., and eastern passage”

O nordeste designava o ponto do horizonte onde o sol sai no dia do solstício de verão, simbolizado pela coluna J (e que se põe a noroeste).

O sudoeste (abreviado como S.-W.) era o ponto no horizonte onde o sol se põe no dia do solstício de inverno, simbolizado pela coluna B (e que se levanta a sudeste).

E entre estas duas posições extremas, devido à eclíptica, está naturalmente a leste, ou seja, o lugar do horizonte onde o sol se levanta em cada um dos dois equinócios, que é onde o sol se eleva nos dois equinócios descritos no texto como “passagem do leste”, a passagem ao final simbolizada no Ulam pela porta do Hêkal (o pôr do sol nos dois equinócios ocorre de forma natural no oeste). Não há nada falso neste catecismo de 1696, que não apenas a pensar o simbolismo dos dois solstícios, mas também no das duas colunas (com seus nomes, seu material, sua altura e seus dois capitéis adornados com lírios e romãs) e a porta do Hêkal – Patrick Négrier dá conta disso no Capítulo IV de seu livro “L’essence da franc-maçonerie a travers ses textes fondateurs 1356-1751”(Oxus, 2018)

Em múltiplas ocasiões temos ouvido dizer ou lido que, no templo de Salomão, a luz vinha da porta dos deuses e no templo maçônico a porta se inverte. Então o maçom entra pelo sol poente, pela porta dos homens. Era lógico para alguns que consideraram assim uma troca de plano entre a casa de Deus, que era o templo de Salomão, e a casa dos homens que caminhavam para a luz, que é o templo maçônico. Este pensamento “guenoniano” é totalmente estranho à tradição da Palavra de Maçom. O Edimburgo de 1696 reporta claramente à porta e às duas colunas a “Nordeste, Sudoeste, e passagem do leste”. Explicação: o nordeste foi a localização da Coluna J (solstício de verão durante o qual o sol sai a nordeste e se põe a noroeste); o sudoeste era a localização da coluna B (solstício de inverno durante o qual o sol sai a sudeste e se põe a sudoeste); e a passagem do leste significava o lugar no horizonte onde o sol sai no dia dos dois equinócios.

É importantíssimo destacar que na origem do grau de companheiro não era comunicadas as Palavras B e J: estas já haviam sido dadas no grau de aprendiz. E é porque o aprendiz já as conhece que ele pode falar delas e já não se necessita voltar a transmiti-las. O Companheiro não é o que recebe B e J, mas o que recebe a letra G. Observando o que diz Prichard, em 1730, no grau de Companheiro, vemos: P- Quando passasteis sob o Átrio, o que visteis?. R- Duas grandes colunas. P- Qual é seu nome? R- J e B, ou seja, Jakin e Boaz. Portanto é falso que ambas palavras são dadas em ambos os graus. Isso é feito somente no grau de aprendiz, conforme diz o “Edimburgo” de 1696.

Voltando ao templo de Jerusalém, estava orientado do leste (Oulam, com suas 2 colunas) para o oeste (Devir, frente ao qual o altar dos perfumes simbolizava a morte). Ao olhar para o templo, olhava-se para o oeste e, segundo esta perspectiva, Ulam representava o leste (porta) flanqueado à direita do nordeste (J) e à esquerda do sudeste (B), onde cada coluna tinha seu próprio simbolismo.

Lê-se e se aceita tão alegremente, afirmações e desenvolvimentos como o que diz em seguida: “A separação da expressão em duas palavras distintas e separadas para o aprendiz e o companheiro teve lugar quando o grau de mestre chegou ao redor de 1730. Era necessário individualizar os corpos de três graus distintos. Foram separados os gêmeos significantes e marcadores da porta solsticial. Eram do mesmo nascimento solar e a um lhe foi dada a vontade divina (Jakin) e ao outro a vontade dos homens (Boaz). Esta dicotomia lembra a porta dos deuses e a porta dos homens”. Esta Exegese guenoniana totalmente estranha à tradição da Palavra do maçom, é, além de tudo, falsa. Não era a porta que era solsticial: eram as duas colunas: “O que significam as duas colunas de bronze? R: elas marcam os dois pontos solsticiais “(Rito Escocês Antigo e aceito, 1829 em COLLECTIF, Origem e Evolução dos Rituais, grande loja de França, 1999, 361).
A controvérsia de 1753

Pouco depois da introdução do grau de mestre, um falso problema contamina o raciocínio de nossos antecessores: a controvérsia dos antigos e dos modernos. Os “Anciens”, constituídos na grande loja, acusaram aos “Modernos” de 1717 de haver investido as palavras depois das revelações publicadas. Mas, se analisarmos com calma, vemos que, em 1737, na “Réception d’un frei-maçon”: B e J ainda são comunicadas ao aprendiz. Em 1745, Gabriel-Louis PERAU, em “L’Ordre des francs-maçons trahi”: se comunica J ao aprendiz e B ao companheiro (este é a origem da modalidade do rito francês).

Qual lenda – que se deu como certa apenas por repeti-la sempre – diz que o Rito Escocês Primitivo está presente nas primeiras lojas do regimento em Saint-Germain-en-Laye desde 1688? Isso é uma invenção pura: a Maçonaria da Palavra do Maçom só foi introduzida na França por volta de 1725.

Se a Maçonaria deseja ser lógica consigo mesma, deve basear-se no simbolismo do nordeste/noroeste de J e no simbolismo do sudeste/sudoeste de B: portanto, deve localizar-se ao norte na loja aqueles que recebem JAKIN (não importa se são os aprendizes ou companheiros – cada rito faz o que ele deseja) e, portanto, terão que ser situados no sul os que recebem B (aprendizes ou companheiros, sendo livre cada rito para decidir). Esta evidência seguramente pode fazer com que se rasgue as vestiduras um tanto por ignorância ou por má praxis do entendimento.

Recordemos que, em 1760, no “Três golpes distintos”, B é comunicada ao aprendiz, e J ao companheiro (prática dos Antigos na qual o REAA se abeberou).

Certamente, as festas de solstício maçônico são significativas devido ao simbolismo solsticial das duas colunas, mas em realidade chegaram tarde e têm uma história que deve ser conhecida; caso contrário, se está exposto a cometer uma incongruência. No século XVII, as lojas escocesas recebiam aprendizes no dia de “São João” de inverno, 27 de dezembro. Logo, em 1717, a incipiente grande loja de Londres elegeu seu grande mestre no dia de São João Batista, 24 de junho. Mas cada um destes dois eventos, que, ademais, não têm RELAÇÃO entre si, não tinham a intenção de celebrar os solstícios simbolizados pelas duas colunas: obedeciam exclusivamente a sua piedade religiosa sem nenhuma implicação esotérica: os calvinistas escoceses, pela eleição de São João Apóstolo, e os anglicanos e outras confissões da grande loja de Londres, pela eleição de São João Batista (não há uma implicação hermética na tradição da Palavra do Maçom).

Pretendeu-se rotular que os chamados ritos “modernos” são de natureza estelar (J no Norte, segundo vigilante no Norte). J não era estelar a priori, mas solar: solstício de verão (é só a analogia tradicional entre a saída do sol no dia do solstício de verão até o meio-dia zenital e a elevação do eixo Polar que permite por extensão conectar Jakin ao céu noturno).

A invenção do sistema hermético, metafísico e militar sob a influência cultivada dos cavaleiros de Saint-Lazare e Saint-André inoculado nas lojas, tem sua origem no pensamento de Ramsay, que continua sendo para alguns a vergonha da Maçonaria porque nem sequer se deu conta de que, ao tomar literalmente a brincadeira de Jonathan Swift na ficção dos cavaleiros maçons da loja de São João de Jerusalém em sua Lettre da Grande Maîtresse des Franc-maçones, à M. Harding, imprimeur, de 1724, foi totalmente enganado. Ante a consideração de que os membros destas duas ordens cavalheirescas presentes em loja foram reconhecidos como “Mestres escoceses”, cabe destacar que ao alto grau de “Mestre Escocês” não era de origem Escocês mas francês, ainda que esta atitude pouco cômica de Ramsay fez que se atrevesse a unir a Maçonaria a uma cavalaria estabelecida na Escócia, em Kilwining, sem dar-se conta de que sua fonte, Swift, era um gracejo, porque Kilwining não teve uma participação católica cavalheiresca: era uma loja presbiteriana calvinista que fundou a Palavra de Maçom. Muito se discutiu a respeito, mas ainda estamos esperando que nos expliquem essa coisa de “rito estuardista” do qual, até o momento, não aparecem fontes sólidas nem fundamentadas.

Para finalizar, e voltando às Colunas, creio que é necessário recomendar, com relação ao elemento bíblico descritivo, que nunca podemos trabalhar com traduções, porque são falsas. Assim, o texto hebreu especifica em I Reis 7,39 e II Cr. 4.10 que o mar de bronze era imanit (“à direita”) qedemah (“em frente” ao Oulam) mimoul negev (“orientado ao sul” ou, caso se prefira, “frente ao sul” e, portanto, ao norte e mais precisamente ao nordeste, já que Ulam representa o leste, e o oeste está representado por Devir).

Quando estamos frente à fachada do templo, o que percebíamos era um mar de bronze à direita (muito perto da coluna J ao nordeste) diante do Ulam (quer dizer, diante e ao lado da coluna J do Ulam), que olha para o sudeste, ou seja, está, muito precisamente, a nordeste.